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sábado, 17 de setembro de 2016

Convicção x Comprovação - Não são termos antagônicos

Qual a diferença entre convicção e comprovação?
Acredito que esse já está sendo um dos temas do século.
Não existe uma oposição essencial.
Procurei fazer uma demonstração com objetivo de estudo, depurando os termos através de dois dicionários, não como referencias universais sobre os termos, mas como referencias culturais. Parece extenso mas é bem simples. A conclusão fica nos últimos três parágrafos.
Espero que sirva.
O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa define Convicção - '[Do lat. convictione.] S. f. 1. Efeito de convencer. 2. Certeza adquirida por demonstração. 3. Persuasão íntima. [Cf. convecção.]'
E Comprovação - [Var. de comprobação.] S. f. 1. Ato de comprovar; comprobação. 2. adm. Conjunto de documentos relativos a gastos que se fizeram por determinada verba.
E no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa Convicção - substantivo feminino 1. Certeza de um .fato de que apenas temos provas morais. 2. [Jurídico, Jurisprudência] Prova evidente. 3. Reconhecimento do próprio crime. Convicções - substantivo feminino plural 4. Crenças; opinião arraigada.
E Comprovação - (latim comprobatio, -onis) substantivo feminino
Ato de comprovar. Comprovar - (latim comprobo, -are, aprovar inteiramente, confirmar, certificar) verbo transitivo 1. Vir corroborar (outras provas). 2. Confirmar. 3. Examinar se nas provas tipográficas estão observadas as emendas feitas nas precedentes. verbo pronominal 4. Ter comprovação.
Pelas definições do dicionário Aurélio, temos em convicção os significados de 'convencer', 'certeza' por demonstração, e 'persuasão íntima', e comprovação por 'conjunto de documentos...', fora os significados redundantes que se referem a outras formas do mesmo radical. Se estar convencido é ter certeza, fica apenas a diferença entre 'convicção' e 'persuasão íntima'.
Pelo dicionário Priberam temos 'certeza penas com provas morais', 'prova jurídica evidente', 'reconhecimento do próprio crime' e 'crenças'. Prova jurídica evidente e reconhecimento do próprio crime também entram em 'convicção', sobrando apenas a certeza de provas morais, que defini como 'comprovação moral' e 'crenças'.
Temos então para convicção os termos 'convicção', 'persuasão íntima', 'comprovação moral' e 'crenças'. 'persuasão íntima' equivale a 'convicção', e difere de 'crenças' e 'comprovação moral', que pode ser coletiva, mas sem dados ou demonstrações, ficando apenas 'convicção', 'crenças', que na conotação sugerida pode ser pejorativa no sentido de convicção errônea e 'comprovação moral'.
Pelo dicionário Aurélio, temos em comprovação conjuntos de documentos relativos a gastos, o que se refere apenas no sentido jurídico econômico, e que defini como 'convicção escrita', além de 'comprovação' derivada por outros radicais.
E pelo dicionário Priberam, temos aprovar inteiramente, confirmar, certificar, corroborar e examinar. Na conotação vigente, 'examinar', 'corroborar', 'certificar' e 'confirmar' são atos que dependem de provas, e portanto podemos definir a todos como 'comprovação' simplesmente.
Fica para comprovação apenas o significado de 'comprovação', como conhecimento ou convicção dotado de provas.
Finalmente qual a diferença entre os significados de 'convicção', 'crença','comprovação moral' e comprovação?
'Convicção' é uma certeza sem provas, 'comprovação moral' uma comprovação sem provas materiais, 'crença', apenas se for no sentido pejorativo, uma convicção infundada e 'comprovação' uma certeza dotada de provas. E portanto toda a diferença entre convicção e comprovação reside no significado de 'prova', que é 'demonstração', o que nos leva a entender que convicção é convicção, simplesmente, e comprovação é uma convicção demonstrada.
Qual a diferença essencial, então? Não existe. A diferença entre uma convicção pura e uma convicção demonstrada não reside no sujeito do verbo, mas no espectador. Demonstrar uma convicção serve para atestar os meios de um raciocínio ao outro, ou seja, as demais pessoas da sociedade científica e geral. É um recurso de transmissão e não uma forma pura de conhecimento, sendo que toda convicção já carrega os meios de comprovação exigidos pelo próprio indivíduo, e toda comprovação está sujeita às más formações da convicção.

O verdadeiro ponto da questão é histórico e cultural. Em que momento as convicções se confundiram com as provas. Ou, ainda, em que momento da história o homem científico confundiu a demonstração com a convicção, e a si mesmo com a comunidade, o indivíduo com o outro, ou, mais ainda, a convicção com a influência alheia, mais especificamente jurídica e econômica, conforme demonstram os significados alternativos dos dois dicionários citados.

E que, finalmente, nos refere a uma idéia ainda mais antiga e obscura. Quando foi que o homem passou a pensar ser verdade o que as maiorias acreditam?

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