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sábado, 5 de julho de 2014

Bom dia. Hoje o Zé já tava no mercadinho às 7 da manhã, discursando com o mate na mão. E pior é que tava certo!
"Arre! Coisa mais estúpida do mundo pensar que um país se faz só com a classe política, que basta votar porque fulano é ladrão e ciclano é honesto, e ponto. Como se as pessoas não fossem a chave disso tudo. Como se os senhores eleitos fossem fazer de boa, sem sujeira, aquilo que ninguém quer fazer por achar trabalho ingrato demais. Aí achar que tudo se resume a esquerda e direita, como se uma ideologia fosse capaz de sanar todas as questões e outra fosse simplesmente errada ou má intencionada, tipo Grêmio x Inter em revanches eternas, onde todo o resto fosse feito de espectadores. Eu mesmo vi a "esquerda" perdurar no poder, depois de a "direita" ter se segurado por um bom tempo. Antes ainda a esquerda já tinha se re-levantado, até ser substituída pela ditadura. Fico pensando, é preciso que todo discurso partidário tenha sido falso pra se conservar em tamanha desmemória, e é preciso ser completamente desinteressado pra não perceber que nenhuma das linhas nunca supre, supriu ou suprirá os interesses de todos, que nossa realidade é bem mais complexa que isso, e que não dá simplesmente pra defender bandeiras, em nome de uma lado só, que toque o trem adiante, e decida tudo o que deve ser decidido e feito. Cada vez mais acredito na política de bairro por achar que só as pessoas realmente podem cuidar da realidade que habitam. Em geral, tanto é corrupta a classe política em sua raiz quanto é abstêmia a sociedade, no seu patriarcalismo desinteressado. Parece que estamos todos atônitos, entre 200 milhões de negros, índios, portugueses, imigrantes europeus e orientais, pardos, pobres, ricos, sem nenhum ideal, nenhuma consciência política que possa unir tantas classes, culturas, raças, crenças e histórias juntas, cortadas, fragmentadas e impostas a uma convivência forçada, combativa, há tanto tempo, pelo velho colonialismo. Fico pensando que a nossa maior herança colonial, fora a mentalidade, é o mapa do país, gigante e plural - garantia de um povo sem consenso nas mãos de uma máquina centralizada, distante, que só consegue manter uma linha no totalitarismo, porque fora isso tudo é volátil e irritantemente escorregadio. Sem a mão das organizações coletivas, das hortinhas coletivas aos movimentos sociais, esse troço país é só um gigante sem pernas..."

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