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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Início

Eu caminhava em silêncio
sentindo o gosto de algo meu,
tomado de um resquício denso
de um tempo que já se perdeu,
Não saberia explicar.

Nenhuma alma conhecida,
somente os rostos da miséria;
nas ruas frias e antigas
do centro, ou da cidade velha,
gostava de caminhar

O tão pouco que eu tinha de mim,
só encontrava estando sozinho;
sentindo o amor distante assim
minh'alma já não sentia medo.

O que eu guardava era horror,
e a sombra do lugar de onde eu vim;
eu sem ação, imóvel em dor,
e tu, insistindo, vieste até mim.

Entre uma e outra aula nula
sinucas na cidade baixa;
fugidos da literatura,
atravessando alguma faixa,
passamos a conversar.

No vento frio das madrugadas,
do outono que já terminava,
e na faixada desolada
do apartamento em que moravas,
passamos a nos beijar.

E era fácil discutir pelas praças
sempre fugindo da intimidade,
mas nus e a sós, amando de graça,
me vi sem chão, temendo a verdade.

Ante a teu gesto sutil de amor
meu ódio já não era implacável;
meu peito, poço de rancor,
já perfurado, agora era instável.

Na simetria do teu rosto
alguma coisa eu procurava;
na tua boca, no teu gosto,
a meu passado resgatava.
Passava a me encontrar.

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