Ode ao Poeta

O assunto da roda é existencial;
Na mesa estão jovens, amigos há anos,
Discutem sinceros assuntos humanos,
Querendo entender o seu mundo real.
Vão longe com a discussão racional;
E em seu pensamento a lógica impera;
Se esforçam em ter coerência severa
Falando sem medo da morte e do mal.

Então se levanta o poeta do nada;
Enxuga a testa enquanto pondera;
Faz silenciar a platéia que o espera
Secar-se da própria existência inspirada.

Olhando nos olhos com intimidade,
Não pode o poeta não se envolver;
Não sem sentimento se faz responder
Que só está disposto a falar a verdade.
Estranham os doutos da realidade:
- Perdera por ora o amigo a razão?
Não é que verdade, uma só, é ilusão?
À lógica a crença faz contrariedade!

- Com horror eu os ouço, lhes diz o emotivo;
- Os vejo falando com testa franzida;
Com cara de dor vocês pensam na vida,
Igual lamentassem por ora estar vivos.
O seu pensamento é cruel e altivo,
Impõe raciocínio ao mistério do amor;
Se apossa de termos calando com horror
Aos próprios amigos que tentam convívio.

Debocham do moço o grupo de sábios;
Divertem-se com sua fala exaltada;
Até sua gagueira lhes rende rizada
Enquanto a emoção lhe arrebenta dos lábios.
Seus olhos são úmidos, lúdicos, ébrios,
É desengonçado seu jeito enfático,
Porém muitas vezes é o mais carismático,
Pois seus sentimentos expressa com brios.

Retoma a palavra o poeta e intervém:
- De que adianta ter tanta ciência,
Ao mundo julgar com total sapiência,
Se então desconhecem os olhos que têm?
A tudo não são vocês mesmo que vêem,
Atentos às coisas da realidade,
Achando defeitos ou então qualidades?
Porque aos seus ímpetos d'alma retém?

De novo o poeta é incompreendido;
Não são como números suas palavras;
Nos seus sentimentos que expressa sem travas,
Os donos da lógica não encontram sentido.

Assim é o poeta que em si não se cabe...
Às vezes até muda de opinião,
Rebusca as próprias palavras, então,
Tentando explicar o que há muito já sabe.
E mesmo que assuste essa sua paixão,
Falando sem medo e com intimidade;
Mesmo que cause até inimizades;
Jamais ignora sua intuição.